Setores da economia nacional que serão afetados pela sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir desta quarta-feira (6) articulam a inclusão de seus produtos em uma nova lista de exceções que isente ou reduza a nova alíquota aplicada.Na ordem executiva que oficializou o tarifaço, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, excluiu cerca de 45% da pauta exportadora do Brasil aos EUA da lista de produtos que seriam afetados. Leia Mais Trump diz que aplicará "pequena tarifa" inicial sobre itens farmacêuticos Negociador do Japão irá aos EUA buscar acordo sobre tarifas automotivas Trump diz que bancos discriminam seus apoiadores A ordem executiva assinada pela Casa Branca traz uma lista com cerca de 700 produtos que ficaram de fora da sobretaxa. Entre eles estão aviões, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro.Já produtos como café, carne bovina, equipamentos de engenharia civil, açúcares e madeira serão sobretaxados. A tarifa de 50% vai atingir 35,9% da pauta exportadora do Brasil aos EUA.O foco desses setores, no momento, é tentar entrar em uma possível nova lista de exceções. Empresários já iniciaram esse movimento, atuando tanto junto ao governo brasileiro quanto em articulações com representantes do setor privado dos Estados Unidos.A ideia é convencer os americanos de que há lógica comercial nos pedidos, argumentando que os mercados são complementares e que a taxação pode encarecer os produtos no próprio mercado norte-americano.A maior parte das associações que representam o setor produtivo afirmam ver a tarifa com “grande preocupação”.Impacto do tarifaço ao PIB brasileiro deve ficar em 0,2 pontos, diz FIESP | Abertura de MercadoA Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), por exemplo, afirma que a tributação total irá chegar a 76%, comprometendo a viabilidade econômica das exportações aos EUA.“A entidade está em diálogo com os importadores norte-americanos e colabora com o governo federal na busca de uma solução negociada”, diz a associação em nota.A Abipesca (Associação Brasileira da Indústria de Pescados), afirma que o mercado norte-americano representa 70% das exportações brasileiras de pescados e mais de US$ 240 milhões.“Considerando a importância do mercado americano para o setor, é fundamental priorizar a negociação e buscar soluções econômicas que beneficiem o Brasil, garantindo a preservação de milhares de empregos e a manutenção da estabilidade econômica do setor”, diz a associação.O setor de cacauicultura calcula uma perda de R$ 180 milhões e um aumento de ociosidade na indústria.“Com o novo cenário tarifário, o mercado norte-americano, segundo principal destino dos derivados brasileiros e responsável por 18% das exportações do setor, torna-se economicamente inviável” diz a Aipc (Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau).A associação também reforça que acredita no “diálogo” como caminho para a revogação da tarifa.“A Aipc reforça seu compromisso com o trabalho técnico e propositivo junto aos governos do Brasil e dos Estados Unidos, em busca de soluções que preservem a previsibilidade, a sustentabilidade da cadeia produtiva e a geração de valor no agronegócio nacional”, diz.O setor do café também demonstra ‘grande preocupação’ com a sobretaxa, mas é um dos mais otimistas quanto à possibilidade de entrar em uma lista de exceções.Essa lógica é compartilhada por integrantes do governo federal.Negociadores ouvidos pela CNN avaliam que o recuo inicial de Trump, que isentou 45% dos itens exportados pelo Brasil, indica que ainda há espaço para negociação dentro da lógica comercial americana.Seguindo essa leitura, o café é considerado pelo governo o produto com maior potencial de obter um tratamento diferenciado. Os Estados Unidos não têm uma produção expressiva da commodity, com cultivo restrito ao Havaí, Califórnia e a Porto Rico.O setor privado do Brasil estima que cerca de 30% do café consumido nos EUA seja brasileiro. Para o governo, é improvável que o produto seja totalmente isento, mas há expectativa de que a alíquota aplicada fique abaixo dos 50% — entre 20% e 30%.A carne bovina, por outro lado, enfrenta mais resistência para uma redução tarifária, na avaliação dos técnicos, apesar de também estar no centro das negociações para as próximas etapas.Petróleo, café e aeronaves: veja itens mais exportados pelo Brasil aos EUA