Antes mesmo da entrada em vigor do tarifaço comercial imposto pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre grande parte dos produtos exportados pelo Brasil aos norte-americanos, os brasileiros já vinham sentindo, no bolso, um alívio em relação aos preços de algumas frutas, principalmente manga, uva e açaí.As frutas não fazem parte da lista de quase 700 exceções que não foram atingidas pela tarifa de 50% sobre os produtos nacionais. Manga, uva e frutas processadas (como o açaí) representam cerca de 90% do total de frutas exportadas aos EUA, de acordo com dados da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).O tarifaço de Trump elevou para 50% a alíquota de importação sobre parte das exportações do Brasil. A decisão foi oficializada por meio de uma ordem executiva assinada no dia 30 de julho. No documento, o governo norte-americano classifica o Brasil como um risco à segurança nacional, justificando a adoção da tarifa mais elevada.A taxação é resultado da aplicação de uma sobretaxa de 40% sobre os atuais 10% já cobrados, dentro do que o governo dos EUA chamou de “ajuste recíproco” das tarifas com seus principais parceiros comerciais. O Brasil foi o país mais afetado no novo pacote tarifário.No ano passado, os EUA absorveram cerca de 77 mil toneladas (o equivalente a US$ 148,3 milhões) de frutas brasileiras, o que representou 7% do total exportado pelo setor em volume e 12% em faturamento.No primeiro semestre deste ano, o faturamento gerado pelas exportações de frutas do Brasil para os EUA somou US$ 583 milhões. Segundo os dados da Abrafrutas, foram exportadas 546 mil toneladas de frutas frescas e processadas – uma alta de 27,17% em volume e de 12,58% em valor, na comparação com o mesmo período de 2024. Leia também Economia Tarifaço: Haddad diz que pequeno produtor é preocupação maior de Lula Negócios Dólar abre estável no Dia D do tarifaço, à espera de reação do Brasil Brasil Haddad chama setor do agro a unir esforços ao governo contra tarifaço Brasil Com início do tarifaço, veja o que se sabe sobre plano de contingência O que explica a quedaÀs vésperas da entrada em vigor das novas tarifas comerciais sobre os produtos brasileiros, os preços dessas frutas já registravam queda no país. Em feiras livres, por exemplo, consumidores se deparavam, nas últimas semanas, com valores até 50% mais baixos da manga e da uva, em alguns casos.Segundo economistas, essa variação não teve relação com o tarifaço dos EUA. O preço da uva, por exemplo, já vinha em queda desde o início de julho, com recuo médio de 3,8%. No fim do mês passado, a baixa chegou a 5,5%.A oscilação é explicada, principalmente, pela supersafra da fruta, que normalmente ocorre entre abril e agosto e fica concentrada no Vale do São Francisco – região do Nordeste brasileiro conhecida pela produção de frutas irrigadas, especialmente uvas e mangas. A região se estende pelos estados da Bahia e de Pernambuco.Esse fator acaba influenciando para a queda dos preços porque aumenta a oferta da fruta, o que diminui o preço.A manga, por outro lado, teve um comportamento distinto: começou o mês de julho em alta de 15% e terminou em queda de 7,2%, sob influência da reação do mercado após a confirmação do tarifaço de 50%, no dia 9 de julho.De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a manga registrou queda de 20% de suas exportações aos EUA nos últimos cinco anos. A principal variedade exportada para os norte-americanos é a tommy, cuja safra começa neste mês de agosto.Exportadores já projetavam queda nos preçosAntes de o tarifaço de Trump começar a valer, exportadores brasileiros de manga, uva e polpa de açaí já estimavam uma redução nos preços dessas frutas no mercado nacional.A entrada em vigor das tarifas de 50% coincide com o início dos embarques da safra de manga para os EUA. A queda nos preços é explicada pelo excesso de oferta nos mercados interno e europeu, que já estão abastecidos. Os empresários do setor, no entanto, avaliam que os efeitos da sobretaxa devem começar a ser sentidos gradualmente, mais adiante.Cerca de 70 mil toneladas de manga já negociadas com os EUA possivelmente terão de ser redirecionadas para o mercado europeu ou interno, segundo a Abrafrutas. Mais tarde, os efeitos devem ser sentidos pelos produtores de uva do Vale do São Francisco – a colheita por lá acontece em novembro.No ano passado, 26% das exportações de uva do Brasil e 31% da polpa de açaí foram exportados aos EUA, gerando uma receita de US$ 89 milhões. A manga, por sua vez, rendeu US$ 45,8 milhões, o que correspondeu a 13% do total exportado pelo país em 2024.NegociaçõesA Abrafrutas afirma que está acompanhando de perto as negociações entre os governos brasileiro e norte-americano em torno de um possível acordo comercial que alivie o setor.“A associação também continua apoiando os seus associados na interlocução com os importadores americanos e com o governo brasileiro na busca de medidas que possam mitigar prejuízos”, afirma a Abrafrutas.