As reviravoltas no cenário político internacional, impulsionadas pela postura imprevisível de Donald Trump, estão desafiando um dos fundamentos mais sólidos do sistema financeiro global: o papel do dólar como principal ativo de reserva. Essa foi uma das principais análises trazidas por Luiz Parreiras, gestor da Verde Asset, durante sua participação no podcast Outliers InfoMoney, em episódio gravado diretamente da Expert XP 2025.“A maneira como Trump conduz a política externa dos Estados Unidos gera um questionamento estrutural da exposição global ao dólar”, afirmou Parreiras. O gestor argumenta que episódios recentes, como o constrangimento público ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, sinalizam o fim da tradicional postura protetiva dos EUA em relação aos seus aliados. “Naquele momento, a Europa percebeu que estava sozinha no baile”, disse.Leia mais: JGP: Mesmo com alta de alíquota de produto incentivado não se verá realocação massivaSegundo ele, esse tipo de atitude rompe com os protocolos internacionais vigentes desde o pós-guerra e afeta a confiança global nos Estados Unidos como parceiro geopolítico e econômico. “A partir dali, começou-se a questionar: se aquele cara não me protege mais, por que todo o meu dinheiro vai estar lá?”, acrescentou Parreiras.O gestor ressaltou que esse reposicionamento do capital global já pode ser observado nas carteiras dos investidores institucionais, inclusive da própria Verde Asset. “Desde então, temos mantido posições vendidas em dólar e buscado diversificação com ouro, criptoativos e até o euro”, explicou.E também: “Não existe crédito sem inadimplência”, diz gestor que prega diversificação de ativosInvestidores já precificam 2026 e buscam alternativas ao dólarO episódio do Outliers também mergulhou nos desafios de investir em fundos multimercados em meio a um ambiente econômico instável e geopolítica turbulenta. Clara Sodré e Fabiano Cintra, da XP, conduziram a conversa com Parreiras, que comentou o quanto as eleições presidenciais de 2026 já estão sendo precificadas pelos mercados — no Brasil e no exterior.“O mundo está em um momento de complexidade extrema. A política de tarifas, a força da inteligência artificial, os conflitos armados… tudo isso cria um ambiente de difícil leitura”, avaliou Parreiras. Segundo ele, o consenso do mercado sobre a valorização do dólar frente a outras moedas após o retorno de Trump ao poder foi completamente invertido. “Foi tudo virado de cabeça para baixo”, observou.Na prática, o que antes parecia ser uma movimentação óbvia de fortalecimento da moeda americana diante do protecionismo trumpista acabou cedendo espaço a uma reconfiguração mais ampla. “O mercado começou a perceber que o caos trazido pelo Trump pode tornar os Estados Unidos menos atraentes como porto seguro”, afirmou o gestor.Essa leitura se reflete também na valorização de ativos alternativos. “O ouro voltou ao radar como reserva de valor, e o Bitcoin começa a se consolidar como uma alternativa — ainda volátil, mas percebida como segura em certos aspectos”, disse Parreiras.Leia tambémTrump diz que anunciará substituto de diretora do Fed até final da semanaKugler está renunciando antecipadamente ao seu mandato e deixará o banco central em 8 de agosto, uma saída surpreendente e antecipadaLula diz que não vai ligar para Trump sobre tarifas, mas para convidá-lo para a COP30Lula disse ainda que o Brasil nunca saiu da mesa do diálogoModelo americano perde atratividade, aponta VerdePara explicar o movimento de saída de capital do dólar, Luiz Parreiras recorreu a uma análise dos quatro pilares que historicamente sustentam o investimento global nos EUA: crescimento econômico, diferencial de juros, segurança jurídica e poderio militar. “O Trump está atacando os quatro”, resumiu o gestor.Embora reconheça que os EUA ainda lideram em tecnologia e crescimento, Parreiras alerta para a tentativa de Trump de interferir na condução da política monetária — incluindo o desejo de substituir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e forçar cortes agressivos na taxa de juros. “Isso mina a previsibilidade e segurança do sistema”, avaliou.No campo jurídico, o desrespeito a acordos e tratados internacionais também fragiliza a imagem dos EUA como um parceiro confiável. “Ele rasga protocolos históricos, o que enfraquece a segurança contratual, algo essencial para o capital estrangeiro”, apontou. A guinada mais preocupante, segundo ele, está na postura militar: “Ao retirar o guarda-chuva de proteção sobre a Europa, o Japão e a Coreia do Sul, os EUA colocam em xeque sua liderança como potência defensiva”.Esse conjunto de fatores, para o gestor, justifica o movimento de diversificação observado nos últimos meses. “O investidor global está abrindo o cardápio. Antes era só dólar e S&P; agora é ouro, cripto, euro, e o que mais puder oferecer retorno e segurança”, explicou.Ouro e Bitcoin despontam como vencedores no novo cenárioParreiras também detalhou como a Verde Asset está posicionando seus portfólios diante desse cenário. Segundo ele, além de reduzir a exposição ao dólar, a gestora aumentou alocações em ativos alternativos com potencial de reserva de valor. “O ouro, pela sua história milenar, e o Bitcoin, que já atravessou a arrebentação da desconfiança, são hoje vistos como vencedores”, disse.Embora reconheça a volatilidade das criptomoedas, Parreiras acredita que o Bitcoin tem conquistado status como ativo de proteção — algo que outras criptos como Ethereum e Solana ainda não atingiram. “Essas são mais apostas em tecnologia do que reservas de valor”, diferenciou.O gestor ainda ecoou a visão do também gestor Luiz Stuhlberger, da Verde, que em painel na Expert XP defendeu a presença dessas duas classes de ativos em qualquer portfólio. “Todo portfólio deveria ter um pouquinho das duas”, reforçou Parreiras.Diante de tantas incertezas, o executivo concluiu que a palavra de ordem para o investidor, hoje, é adaptação. “O mundo mudou, o centro de gravidade dos investimentos está se deslocando. E quem continuar operando com o manual antigo, vai ficar para trás”, finalizou.The post Com Trump, papel do dólar como reserva global entra em xeque, alerta gestor da Verde appeared first on InfoMoney.